- Preta?
- Quê que você quer?
- Só quero que você me escute. Quero explicar tudo pra você.
- Cê não tem mais nada pra me explicar não, Apolo, tá tudo muito claro. Você foi embora com ela de mãos dadas e eu vi. Todo mundo viu. Cê saiu sem olhar pra trás, sem nem se preocupar com o que eu tava sentindo e agora tá lá, instalado com ela na casa que é do seu pai.
- Preta, me ouve por favor.
- Ouvir o quê, Apolo? Mais mentira?
- Eu ia passar mais de vinte anos trancado naquela cadeia. Foi o único jeito que tive de ter de volta minha liberdade. Eu queria sair daquele lugar. Eu queria provar a minha inocência. Eu queria acabar com a raça do Tony.
- Tudo bem, você já conseguiu tudo isso e continua com ela. Pra quê? Por quê? Tem explicação pra isso também?
- Tem. Tem uma explicação pra isso. Meu pai foi roubado antes de morrer. E eu jurei pra mim mesmo que eu ia fazer justiça à memória dele. Eu jurei que eu ia recuperar a fortuna que ele levou uma vida inteira pra construir e que a Bárbara e o Tony roubaram dele.
- Cê nunca ligou pra dinheiro, Apolo. Ou vai me dizer que você também mentia quando dizia aquilo? E você lá tem que dormir com aquela mulher pra fazer justiça à memória do seu pai? Pára de mentir, Apolo.
- Preta... Se isso fosse mentira, se eu tivesse com a Bárbara porque eu gosto dela, pra quê que eu ia me dar ao trabalho de chegar aqui, olhar na sua cara, enfrentar o seu desprezo pra tentar fazer você me compreender? Me diz, Preta. Pra quê que eu ia fazer isso?
- Num sei! Eu não sei, não sei por que você faz as coisas ou deixa de fazer, eu sei do que eu vivi, do que eu vi, do que eu tô vivendo. Cê tem noção das noites que eu passei em claro, esperando você sair daquela cadeia? Eu enfeitei essa casa inteira aqui, ó, pra sua volta, meu filho me ajudou. E você saiu e passou por mim de mãos dadas com a mulher que fez de tudo pra infernizar a minha vida.
- Preta, eu já te disse, não dava pra...
- Quê que é!? Quê que é!? Quê que cê queria? Cê num achou que me humilhou muito não? Tá agora tentando me fazer de idiota!?
- Já te disse, Preta, não dava pra ser diferente. A Bárbara tem que pensar que eu tô com ela porque eu quero. É pra ela que eu tô mentindo.
- Você vai casar, Apolo. Você vai casar, eu li no jornal. Quê que é? Você vai mentir pro juiz também?
- Vou. Eu sou capaz de mentir pra todo mundo se for preciso, mas eu vou fazer aquela mulher devolver cada centavo da fortuna que ela roubou do meu pai.
- Enquanto isso cê vai continuar beijando ela na boca? Sentando à mesa com ela, dormindo com ela? Um homem capaz de tanto fingimento num pode prestar pra nada mesmo. Apolo, eu não sei mais quem você é, eu não conheço você. Sai daqui, volta pra sua casa!
- Preta, tenta entender. Meu pai foi assassinado na minha frente.
- Você nem conhecia o seu pai! Você não conhecia ele, você custou pra se aproximar dele, pra aceitar um carinho dele. Agora cê quer me convencer de que vai se vender pra fazer justiça em nome dele, Apolo? Isso não convence ninguém! Você quer é morar naquela casa rica, entendeu? Você quer se vingar é do seu pai, não da Bárbara!
[Paco beija Preta]
- Sai daqui!
[Ele a beija novamente]
- Vá embora, vá embora que cada vez que eu deixo você tocar em mim é a memória do Paco que eu tô ofendendo.
- Tanta coisa que você não sabe, Preta... Tanta coisa.
- O que eu sei é mais que o suficiente pra querer que você suma da minha vida.
- Te amo, eu te amo.
- Vá embora daqui! Vá embora!
[Paco ao fundo, enquanto Preta grita: - Te amo. É tudo que eu posso dizer agora.]