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"Contadores de histórias"

Era uma vez uma velha chamada Maria. Vivia numa casinha pequena, com as suas três netas, todas "Marias" como a avó: a Maria pequena, a Maria do meio e Maria crescida.

Um dia de manhã cedo a avó Maria disse às três netas Marias:

- Filhas, hojes quando acabarem as tarefas, venham depressa pra casa, que a avó tem uma surpresa.

Essa manhã as meninas correram e fizeram tudo aquilo que havia para fazer. E foi a Maria mais pequena quem primeiro chegou à casa.

- Avó! Mostra-me essa surpresa!
- Então vai lá embaixo à adega e vê o que a avó tem na mesa em cima do pratinho.

A menina foi devagarinho e abriu a porta que dava para a adega... Deu um passinho descendo o degrau, deu outro, e quando a menina estava quase a pisar o terceiro degrau, começou a ouvir uma voz que parecia que vinha da profundeza da terra...

"Maria, pequena, não queiras descer!
Sou um tranglomanglo e vou-te comer..."

Mas a menina... A menina não sabia o que era um tranglomanglo e quando pôs bem o pé em cima daquele degrau .. Uááá!!!! Hmm nhiam, nhiam...!!! O tranglomanglo a comeu.

A avó estranhou a menina nunca mais voltar. Mas a sua segunda neta já estava ali a chegar.

- Avó, vó, já cheguei! Cadê a minha surpresa?
- Ó rapariga, vai lá embaixo à adega que em cima da mesa tens ums pratinho e lá dentro, a "surpresa"!

E a Maria do meio foi. Abriu a porta muito devagarinho. Desceu um degrau, logo depois outro e quando ía pôr o pé no terceiro degrau, uma vez que parecia vir da profundeza terra começou-se a ouvir...

"Maria, do meio, não queiras descer!
Sou um tranglomanglo e vou-te comer..."

Mas a menina não sabia o que era um tranglomanglo e pôs mesmo o pé no terceiro degrau e naquele instante...Uááá!!!! Hmm nhiam, nhiam... Veio o tranglomanglo e comeu a menina.

A avó estranhou a menina nunca mais voltar, mas a sua terceira neta já estava a chegar...

- Então, avó, e a surpresa pra mim...?
- Ó minha filha, vá lá embaixo à adega, em cima da mesa num pratinho tem lá a surpresa pra ti.

E a menina foi. Abriu a porta da adega e... Desceu um degrau, depois outro, depois outro ainda e a mesma voz fez-se escutar, vinda da profundeza da terra.

"Maria, crescida, não queiras descer!
Sou um tranglomanglo e vou-te comer..."

A menina, como as manas, não sabia o que era um tranglomanglo e de repente... Uááá!!!! Hmm nhiam, nhiam. O tranglomanglo a comeu.

E a avó começou a estranhar, porque as netas não voltavam e foi a própria avó que resolveu descer à adega pra ver o que ali tinha acontecido. Abriu a porta devagarinho, e ainda não tinha mesmo posto o pé no primeiro degrau, já mesmo a voz terrível se escutava, que parecia vinda da profundeza da terra...

"Ó vellha Maria, não queiras descer!
Sou um tranglomanglo e vou-te comer..."

Aaah! A avó sabia o que era um tranglomanglo e não desceu mais e ficou ali coitadinha sentada nos degraus, chorando, chorando, com pena do que tinha acontecido às suas netas

Foi então passou bem ali ao pé uma formiga muito esperta, muito matreira, uma formiga rabiga, de certeza, e vendo a velha a chorar, perguntou:

- Ó velha, por que é que choras?
- Ai, formiga, nem queiras saber... As minhas três desceram à adega pra irem comer um pãozinho com mel que eu tinha deixado num pratinho em cima da mesa, mas veio um tranglomanglo e levou-as. E agora quer-me levar também a mim!
- Ah! Um tranglomanglo! - disse a formiga.

Mas a formiga não sabia o que era um tranglomanglo.

- Deixa-me ver! - e foi a própria formiga que resolveu lá descer. Desceu um degrau, desceu outro, e quando estava a pôr o pé, o pezinho no terceiro degrau, a mesma voz vinda da profundeza das terras fez-se ouvir.

"Formiga, rabiga, não queiras descer!
Sou um tranglomanglo e vou-te comer..."

"Um tranglomanglo...?!" - pensou a formiga. A formiga não sabia o que era e de repente... Uááá!!!! Só que a formiga não era como as meninas Maria e o que tranglomanglo tinha dentro da barriga era uma formiga esperta, ladina.

Uma formiga rabiga é muito traquina! E começou a picar, picar, por dentro da barriga do tranglomanglo e já não podia estar. E de repente o tranglomanglo sentiu uma grande aflição e...

Pá!!! Saltou uma menina, a mais pequenina. E logo a seguir... Pá! Pá! Saltou a segunda e logo em seguida, pá! pá! pá! A terceira. A terceira netinha Maria também saltava e logo a seguir... Pá! Pá! Pá! Pá! Saltou a formiga e tranglomanglo deu um estouro grande e desapareceu!

Ah, mas as meninas... As meninas ficaram do mais aflito do que havia e nessa noite nem conseguiam descansar. Por isso pediram à avó que lhes fosse contar uma história. E avó, que era uma velha antiga, uma velha, velhinha, velhota - atinga e sabida - resolveu contar-lhes uma história a sua avó lhe contava.

E contou. A minha mãe teve dez filhas Todas a dez dentro de um pote. Deu um tranglomanglo nelas e não ficaram senão nove. Essas nove que ficaram foram amassar biscoito. Deu um tranglomanglo nelas e não ficaram senão oito.

Essas oito que ficaram foram pentear o tapete. Deu um tranglomanglo nelas, não ficaram senão sete. Essas sete que ficaram foram esperar os reis. Deu um tranglomanglo nelas, não ficaram senão seis.

Dessas seis que ficaram, todas elas tinham um cinto. Deu um tranglomanglo nelas, não ficaram senão cinco. Essas cinco que ficaram foram depenar um pato.
Deu um tranglomanglo nelas, não ficaram senão quatro.

Essas quatro que ficaram foram matar uma rês. Deu um tranglomanglo nelas, não ficaram senão três. Essas três que ficaram foram passear nas ruas. Deu um tranglomanglo nelas, não ficaram senão duas.

Essas duas que ficaram foram brinca com a espuma. Deu um tranglomanglo nelas, não ficou senão uma. E essa uma que ficou foi ver amassar o pão. Deu um tranglomanglo nela e acabou-se a geração."

"Tranglomanglo". - É a Castilha Taclim quem conta a história. Acompanhada pelos arranjos musicais de Rui Mourão, do álbum "Era ou não era", editado pela "Boca - palavras que alimentam".