"Histórias do Mundo"
Olá! Vou contar-te uma história tradicional da Bélgica, um país que fica na Europa. Estás farto de ouvir falar na Bélgica, não estás? A capital é Bruxelas... na Bélgica falam francês, flamengo e alemão.
A história que te vou contar chama-se "Joana - Condessa da Flandres". Joana escolheu o vestido azul e uma fieira de pérolas para se enfeitar. "Lá pra noite tenho de ser a mais bonita", pensou. "Até o próprio rei ficará admirado quando eu entrar no salão".
Contente consigo própria, chamou a aia para que lhe penteasse os cabelos com um pente de ouro fino. Depois mandou vir perfumes e escolheu demoradamente.
- Este é muito forte! Este é muito fraco... Prefiro um que cheire a flores silvestres.
Ansiosa e agitada, encharcou a pescoço, as mãos, os braço, quase manchando o vestido!! A aia sorria complacente.
- Ahahaha. Esteja quieta, m'nina. Assim não consigo penteá-la!
- Estou bonita?
- Está liiinda! Mas diga-me cá: a que se deve tanto entusiasmo?
- Ah.... é por causa do baile!
- Ora, ora. Desde que chegamo a Paris. Há bailes e saraus todas as noites.O Rei Felipe Augusto faz questão de ver a corte muito animada. Está-me a pareceeer... que o motivo é outro.
Joana corou e baixou os olhos. Não queria confessar a verdade, mas o seu coração alvoroçasse só de pensar no príncipe português, que aparecerá a pouco, vindo de terras longínquas, e por quem todas as damas suspiravam apaixonadíssimas. "Aaaiii!"
Claro que a aia sabia isso muito bem. À cautela, até já fizera algumas investigações por conta própria. O jovem dizia-se filho de um tal Rei Dom Sancho Primeiro de Portugal. Por que teria vindo para tão longe da corte de seu pai? Só para conhecer o mundo...? Perguntando aqui e ali, pois com estrangeiros todo cuidado é pouco, acabou por confirmar a história.
De fato tratava-se de um príncipe que decidira viajar para satisfazer a sua curiosidade e desejo de aventura. Todos os que lidavam com ele só tinha a dizer bem. Gabavam-lhe a inteligência, a bondade, as boas maneiras. (A aia) Podia, portanto, deixar que a sua menina o cativasse.
Se queria casar com ele, de certo casaria mesmo, porque nenhum fidalgo digno desse nome virava costas à linda e riquíssima Condessa de Flandres. Muitos já tinham tentado pedi-la em casamento, mas até a data Joana preferia continuar solteira.
Agora o caso mudara de figura. Bastava olha para ela e qualquer pessoa ficava a saber o que lhe ia na alma.
- Espero q' sejam muito felizes e tenham muitos m'ninos pra eu cuidar.
- O que estás a dizer?! - perguntou Joana, fazendo-se de desentendida. A Aia não respondeu. Limitou-se a abanar a cebeça e sorriu, carinhosa como sempre.
- Vá lá! Não se atrase. São horas de descer ao salão.
Na corte de Felipe Augusto as festas eram suntuosas. Havia músicos, jograis, bailarinas... Às vezes cantava-se e dançava-se até de madrugada. Fernando bem dizia a hora que se lembrara de ir a Paris.
Fora muito bem recebido, o que não era para admirar-se, sendo filho de rei. Mas sentia que o apreciavam, que gostavam dele. As mulheres, então, perdiam a cabeça. Riam-se de tudo o que dissesse. Lançavam-lhe olhares talvez demasiado diretos e divertiam-se, fingindo-se incapazes de lhe pronunciar o nome. Mas só podia tratar-se de brincadeira... um nome tão simples!
De qualquer forma tinham graça, a carregar nos erres (r). Em vez de "Fernando", diziam "Ferr-nã".
- Pois seja, não soa mal. Ficarei "Ferrnã" para o resto da vida. - a decisão tinha muito que ver com negócios de amor. Entre a raparigas casadoiras havia uma que o cativara desde o princípio. Nova, bonita, simpática, vestia-se com elegância, em tons suave e usava cabelos soltos, enfeitados com belíssimas fieiras de pérolas.
E o sorriso? Um en-can-to!! Além de tudo, era riquíssima - o pai desaparecera em combate e ela herdara os condados da Flandres e de Hainaut.
- Precisa de alguém que a ajude a governar as suas terras! Se me quiser, faz uma boa escolha.
Nessa noite, quando a viu entrar na sala e avançar num passo miudinho, gracioso, ficou alvoroçado, porque os olhos de ambos encontraram-se e teve a certeza de que o queria. Sim - que o amava.
"Havemos de casar e ser muito feliiizes", pensou. Pensou, mas não disse, porque antes de falar, era necessário obter a autorização do rei. No entanto, foi-se achegando, de modo a ficarem sentados lado a lado.
Por baixo da mesa, escontou-lhe o pé. Por cima de mesa, afagou-lhe a mão. A atmosfera adquiriu reflexos dourados. Quase não trocaram palavras, mas ambos desejavam o banquete se prolongasse horas a fio. Que se possível nem tivesse fim.
A história que acabei de te contar chama-se "Joana - Condessa da Flandres". Faz parte do livro "Histórias e Lendas da Europa", de Ana Maria Magalhães e Isabela Alçada, da editorial Caminho.
Thanks! European Portugese please.