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Shomerschneedle
383 Words / 2 Recordings / 0 Comments

As utopias morreram, as ideologias agonizam e eu tambem nao ando me sentindo muito bem. "Esquerda" e "direita" sao termos obsoletos. Vêm da divisão física entre os progressistas e os conservadores nas assembléias legislativas francesas depois da Revolução.Quer dizer, têm mais de duzentos anos. Não significam mais nada. Ou significam? Mesmo com outro nome, esquerdistas e direitistas ainda pensariam de modos diferentes, embora não tanto como século XVIII. Se se chamassem Centro A e Centro B, continuariam a pensar e a ser fierentes, e a enternder e querer coisas opostas.
Mas há um sentimento que une, sim, direita e esquerda. Uma nostalgia comum que nenhum lado confessa, e da qual talvez new se dê conta. Mas existe. É a saudade do século XIX.
Ah, o século XIX. A esquerda poderia evocar o texto do Paulo Mendes Campos que fala das primeiras horas do Gênese, com "o mundo ainda úmido da Criação", para descrever com o mesmo encanto aquele outro começo. quando a História, por assim dizer, entrou na história e tudo recebia seus nomes verdadeiros. Uma segunda Criação. Hegel ainda quente, Marx pondo seus ovos explosivos, o passado e o futuro sendo redefinidos com rigor científico e a modernidade tecnológica e a modernidade social (ou, simplificando, a máquina a vapor e a nova consciência proletária) prestes a se fundir para transformar o mundo. "Bliss it was in that dawn to be alive" , êxtase era estar vivo naquela aurora, escreveu o poeta Wordsworth sobre a Revolução Francesa. A esquerda poderia dizer o mesmo do século XIX. Naquela aurora não havia dúvida sobre a inevitabilidade histórica do socialismo.
Mas êxtase também espera a direita numa volta idílica ao século XIX. Foi o século de reação à revolução, da restauração conservadora na Europa depois do terremoto republicano e do nascente capitalismo industrial sem remorso. Os que hoje propõem a "flexibilização" dos direitos dos trabalhadores conquistados em anos de luta (como os que os franceses hoje defendem nas ruas de Paris) babaria com o que veriam no velho século: homens, mulheres e crianças trabalhando 15 horas por dia, sem qualquer amparo, e sem qualquer encargo legal ou moral, fora os magros salários, para seus empregadores. A perfeição. Antes que a pregação socialista a estragasse.
Século XIX, terra de sonhos. Para a esquerda e a direita, juntas.

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  • Ah, o seculo XIX ( recorded by mfmguerra ), portugal

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    As utopias morreram, as ideologias agonizam e eu tambem não ando me sentindo muito bem. "Esquerda" e "direita" são termos obsoletos. Vêm da divisão física entre os progressistas e os conservadores nas assembléias legislativas francesas depois da Revolução. Quer dizer, têm mais de duzentos anos. Não significam mais nada. Ou significam? Mesmo com outro nome, esquerdistas e direitistas ainda pensariam de modos diferentes, embora não tanto como no século XVIII. Se se chamassem Centro A e Centro B, continuariam a pensar e a ser diferentes, e a entender e querer coisas opostas.
    Mas há um sentimento que une sim, direita e esquerda. Uma nostalgia comum que nenhum lado confessa, e da qual talvez nem se dê conta. Mas existe. É a saudade do século XIX.
    Ah, o século XIX. A esquerda poderia evocar o texto do Paulo Mendes Campos que fala das primeiras horas do Gênese, com "o mundo ainda úmido da Criação", para descrever com o mesmo encanto aquele outro começo. Quando a História, por assim dizer, entrou na história e tudo recebia seus nomes verdadeiros. Uma segunda Criação. Hegel ainda quente, Marx pondo seus ovos explosivos, o passado e o futuro sendo redefinidos com rigor científico e a modernidade tecnológica e a modernidade social (ou, simplificando, a máquina a vapor e a nova consciência proletária) prestes a fundir-se para transformar o mundo. "Bliss it was in that dawn to be alive", êxtase era estar vivo naquela aurora, escreveu o poeta Wordsworth sobre a Revolução Francesa. A esquerda poderia dizer o mesmo do século XIX. Naquela aurora não havia dúvida sobre a inevitabilidade histórica do socialismo.
    Mas êxtase também espera a direita numa volta idílica ao século XIX. Foi o século de reação à revolução, da restauração conservadora na Europa depois do terremoto republicano e do nascente capitalismo industrial sem remorso. Os que hoje propõem a "flexibilização" dos direitos dos trabalhadores conquistados em anos de luta (como os que os franceses hoje defendem nas ruas de Paris) babaria com o que veriam no velho século: homens, mulheres e crianças trabalhando 15 horas por dia, sem qualquer amparo, e sem qualquer encargo legal ou moral para seus empregadores, fora os magros salários. A perfeição. Antes que a pregação socialista a estragasse.
    Século XIX, terra de sonhos. Para a esquerda e a direita, juntas.

  • Ah, o seculo XIX ( recorded by juliohart ), South Brazilian (Gaúcho)

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    As utopias morreram, as ideologias agonizam e eu também nao ando me sentindo muito bem. "Esquerda" e "direita" sao termos obsoletos. Vêm da divisão física entre os progressistas e os conservadores nas assembléias legislativas francesas depois da Revolução.Quer dizer, têm mais de duzentos anos. Não significam mais nada. Ou significam? Mesmo com outro nome, esquerdistas e direitistas ainda pensariam de modos diferentes, embora não tanto como século XVIII. Se se chamassem Centro A e Centro B, continuariam a pensar e a ser orgulhosos, e a entender e querer coisas opostas.
    Mas há um sentimento que une, sim, direita e esquerda. Uma nostalgia comum que nenhum lado confessa, e da qual talvez nem se dê conta. Mas existe. É a saudade do século XIX.
    Ah, o século XIX. A esquerda poderia evocar o texto do Paulo Mendes Campos que fala das primeiras horas do Gênese, com "o mundo ainda úmido da Criação", para descrever com o mesmo encanto aquele outro começo. quando a História, por assim dizer, entrou na história e tudo recebia seus nomes verdadeiros. Uma segunda Criação. Hegel ainda quente, Marx pondo seus ovos explosivos, o passado e o futuro sendo redefinidos com rigor científico e a modernidade tecnológica e a modernidade social (ou, simplificando, a máquina a vapor e a nova consciência proletária) prestes a se fundir para transformar o mundo. "Bliss it was in that dawn to be alive" , êxtase era estar vivo naquela aurora, escreveu o poeta Wordsworth sobre a Revolução Francesa. A esquerda poderia dizer o mesmo do século XIX. Naquela aurora não havia dúvida sobre a inevitabilidade histórica do socialismo.
    Mas êxtase também espera a direita numa volta idílica ao século XIX. Foi o século de reação à revolução, da restauração conservadora na Europa depois do terremoto republicano e do nascente capitalismo industrial sem remorso. Os que hoje propõem a "flexibilização" dos direitos dos trabalhadores conquistados em anos de luta (como os que os franceses hoje defendem nas ruas de Paris) babariam com o que veriam no velho século: homens, mulheres e crianças trabalhando 15 horas por dia, sem qualquer amparo, e sem qualquer encargo legal ou moral, fora os magros salários, para seus empregadores. A perfeição. Antes que a pregação socialista a estragasse.
    Século XIX, terra de sonhos. Para a esquerda e a direita, juntas.

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