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Ceciliapong
820 Words / 2 Recordings / 1 Comments
Note to recorder:

Natural speed please.

Minha ração diária de informações está cada vez menor. Interesso-me mais em qualificar os relacionamentos. E isso exige tempo, muito tempo e dedicação. Sei que vivemos um momento político e econômico especialmente difícil. Quem vai semanalmente ao supermercado sabe que a inflação anual de dois dígitos é cada vez mais tangível. Escândalos ocupam as páginas dos principais jornais e revistas do país. Amigos que participam das redes sociais me contam do furor pró e contra governo que tomou conta desses nossos dias. Mais contra, diga-se. O protesto é uma arma contundente e precisamos usá-la com inteligência e equilíbrio, evitando que tudo se reduza às agressões pessoais. Não estou alheio a isso, só não quero ser desviado do meu principal propósito: tornar-me um ser humano melhor, avaliando constantemente o que se passa dentro de mim, polindo as arestas que não me permitem ver com clareza o que precisa ser depurado. E, acima de tudo, evitando confrontos que me desviem desse itinerário que estou seguindo de mãos dadas com meus grandes amigos: os filósofos e os poetas. Eles são a carne e o sangue que nutrem e expandem a minha jornada espiritual.

Seguir por outra senda, a dos raivosos, dos que dramatizam tudo, é ceder à tentação fácil dos descontentes. Poucos de nós terão o privilégio de atravessar a existência imunes a dores e perdas. Nosso grande mérito, a tarefa para a qual devemos nos sentir destinados, é a de não permitir que nada disso destrua o nosso projeto de felicidade. Procuro âncoras a toda hora. Um romance que expanda os limites da realidade e me faça amar cada vez mais a imaginação. Ficar colado permanentemente aos atos ordinários da vida é insuficiente para perceber os milagres que nos são entregues cotidianamente. Devemos reaprender a olhar, mesmo em meio ao rebuliço e às ruas repletas de gente. Há sempre uma pulsação, um gesto de beleza que encontro na criança carregada amorosamente pelo pai, no velho que demora para chegar à outra calçada, nos namorados que se beijam indiferentes aos que passam. Acho tudo isso tão bonito. E procuro ficar atento para que o desejo de sorver esses movimentos persista em mim como a fome que se renova dia após dia. Por isso me incomoda tanto ver gente esbravejando por insignificâncias. Saltam-lhe as veias do pescoço e, com a voz alterada, saem ladrando em busca de inimigos que eles mesmos inventam. Quando encontro gente assim, minha vontade é dar-lhes de presente o livro “Sobre a brevidade da vida”, de Sêneca. Ela nunca é breve, tem sempre a medida exata, ele nos ensina. Nós é que a gastamos imprudentemente. A quem iremos reclamar, se o erro é nosso?

Somos todos atores mergulhados numa história cujo fim desconhecemos. Melhor é tentar transformar as mazelas numa boa comédia, aprendendo a manter certo distanciamento do problema, explorando outras perspectivas. Muito do que vemos por aí é o resultado de uma época que preconiza o espetáculo, criando necessidades falsas numa velocidade assustadora. Eu mesmo continuo sofrendo bullying por não ter aderido à confraria dos que têm IPhone. Meu celular serve perfeitamente para o que preciso. Se deixo de trocá-lo não é só como um ato de protesto contra o consumismo desenfreado: simplesmente não preciso de um aparelho novo. Há tantas coisas mais importantes em que quero me focar. Por exemplo, estudar mais e mais os grandes mestres – os verdadeiros faróis que apontam para um norte por onde eu possa seguir.

As revoluções que me interessam são silenciosas, individuais. Tento não alterar a voz para defender uma ideia que me é cara. Estou treinando, nem sempre com o sucesso esperado. Os que encontram motivo para sofrer por tudo e por todos, sem agir, apenas gritando aos quatro ventos o seu descontentamento, não costumam obter êxito. Não quero estar na lista dos que podem sofrer um infarto por viverem sob tensão permanente. Tudo é importante e nada é. Cemitérios são adubados permanentemente com a ossada de homens e mulheres que se acreditavam imprescindíveis. Devemos nos destinar mais a tarefas de ordem afetiva do que àquelas que redesenham a paisagem física do mundo. Gosto do que permanece, do que não tem pressa. Sei que, pensando assim, caminho em sentido contrário ao deus da nossa época: o progresso. Que cansaço! Delego aos outros a tarefa de deixar tudo polido e reluzente. Quero deitar confortavelmente numa rede, testemunhando a brisa, a chuva e o sol. Os que gostam de vociferar? Que o façam, mas bem longe. Perdoem-me aqueles que me acharem inflexível. Tento apenas me defender de uma ordem que nos expulsa do cerne, do que é essencial. Não quero esse exílio. A aceitação sempre me pareceu caminhar junto com a fé. As coisas vão acontecendo, ora para o bem, ora para o mal (ou para nos fazer repensar). Nada adianta sair por aí arrancando os próprios cabelos. Ninguém ouve quem grita.

Os ventos carregam mais facilmente as vozes aplainadas pela suavidade.

Recordings

Comments

Norton
Nov. 7, 2015

I like this text!!!

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